Cardiomiopatias /

Saiba mais sobre as doenças que acometem o músculo cardíaco

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O que são Cardiomiopatias?

Por Giovana Laís Ruviaro Tuleski, DVM, MS

Cardiomiopatias são doenças que acometem o músculo cardíaco, chamado miocárdio. Há cardiomiopatias mais frequentes em gatos, enquanto outras são mais comuns nos cães.

Cardiomiopatias em cães

A Cardiomiopatia Dilatada é a doença do músculo cardíaco mais comum em cães. Nessa afecção as fibras miocárdicas perdem a força de contração, o que leva à dilatação das câmaras cardíacas. A causa é idiopática (desconhecida), porém em algumas raças já foi comprovada a predisposição genética. Essa doença é característica de cães de raças grandes, exceto o Cocker Spaniel, que tem médio porte e pode apresentar cardiomiopatia dilatada.

Cães com cardiomiopatia dilatada podem apresentar sinais de insuficiência cardíaca esquerda ou direita, uma vez que há aumento global do coração. No primeiro caso, podem apresentar tosse, falta de ar, cansaço, intolerância ao exercício ou desmaios. Caso os sinais sejam de insuficiência cardíaca direita o cão irá apresentar ascite (líquido livre no abdômen), falta de ar pela efusão pleural (líquido livre no tórax) ou edema (inchaço) de membros.

O exame ecocardiográfico permitirá verificar a função sistólica do coração, ou seja, a capacidade do coração em bombear o sangue circulante. O exame também permite verificar a dimensão dos átrios e ventrículos e investigar a presença de insuficiências valvares.

Nos cães de raças com predisposição à doença, mesmo sem sinais clínicos, recomenda-se o exame ecocardiográfico preventivo para permitir o diagnóstico precoce. O Laboratório de Cardiologia Comparada do Hospital Veterinário da UFPR dispõe de tecnologia avançada que permite avaliação segmentar do miocárdio, tornando ainda mais detalhada a avaliação da função cardíaca.

Além da ecocardiografia, cães com cardiomiopatia dilatada também necessitam exame eletrocardiográfico, pois o aumento das câmaras cardíacas, predispõe ao desenvolvimento de arritmias cardíacas. Em cães da raça Boxer ocorre frequentemente a Cardiomiopatia Arritmogênica , cuja principal característica é o desenvolvimento de arritmias ventriculares. Nesse caso, o exame eletrocardiográfico é imprescindível para documentar a característica e a frequência dessas arritmias, sendo às vezes importante complementá-lo com o Holter (exame eletrocardiográfico realizado por longo período). O exame ecocardiográfico, nesse caso, auxilia revelando alterações anatômicas e funcionais provocadas pela arritmia, mas eventualmente pode revelar um coração estruturalmente normal.

Cardiomiopatias em gatos

A Cardiomiopatia Hipertrófica é a doença cardíaca mais comum em gatos. Em algumas raças, como Maine coon, Ragdoll, Norueguês da Floresta e Persa, já foi demonstrada predisposição genética para seu desenvolvimento e, por isso, não é recomendado que os animais afetados se reproduzam.

A doença é caracterizada pela hipertrofia do músculo do ventrículo esquerdo, ou seja, há espessamento da parede do ventrículo esquerdo e/ou do septo interventricular (estrutura que separa o ventrículo esquerdo do direito). Como consequência dessa hipertrofia, a cavidade ventricular esquerda diminui de tamanho, comprometendo a sua capacidade de receber o sangue vindo do átrio esquerdo. Com o tempo, o átrio esquerdo vai aumentando de tamanho para comportar o sangue que o ventrículo esquerdo não conseguiu receber. Além disso, costuma haver insuficiência da valva mitral como consequência das alterações anatômicas do coração, a qual também promove aumento do átrio esquerdo e intensifica o quadro congestivo.

O átrio dilatado favorece a formação de trombos (coágulos) em seu interior, os quais podem ser desprender e ganhar a circulação sanguínea, resultando em uma complicação grave chamada tromboembolismo arterial , cuja característica mais comum é a paresia súbita dos membros pélvicos (traseiros).

É importante salientar a muitos gatos com problemas cardíacos não apresenta sinais clínicos aparentes. Assim, o exame ecocardiográfico é a forma mais eficaz de diagnosticar a cardiomiopatia hipertrófica, sendo recomendável realizá-lo preventivamente antes dos 6 anos em gatos de raças predispostas e após os 10 anos em gatos de outras raças.

Além disso, é importante considerar que algumas afecções sistêmicas podem mimetizar as alterações características da cardiomiopatia hipertrófica, dentre as quais destacam-se a hipertensão arterial sistêmica e o hipertireoidismo. Por fim, além da cardiomiopatia hipertrófica, os gatos também apresentam cardiomiopatia restritiva, cardiomiopatia dilatada (normalmente associada à deficiência de taurina na dieta), cardiomiopatia não classificada e cardiomiopatia arritmogênica.

Para auxílio no diagnóstico das cardiomiopatias felinas, o Laboratório de Cardiologia Comparada do Hospital Veterinário da UFPR dispõe de dois equipamentos de ecocardiografia, ambos com Doppler, tecnologia que possibilita avaliar a morfologia e função do coração, bem como quantificar a velocidade do sangue através das diferentes estruturas cardíacas, além da velocidade do tecido miocárdico (Dopper tecidual) para melhor avaliar a função diastólica. Publicada em 06/07/2016